Anda por aí a fazer as rondas mais um exercício de estupidez militante da "historiadora" Raquel Varela (não é: é socióloga, o que se calhar ainda é mais grave neste contexto), no qual se acusa de nazismo a Ucrânia e o seu presidente com base no símbolo das forças armadas ucranianas.
Zelenski porque aparece com o símbolo ao peito, a Ucrânia por causa do símbolo em si.
Como eu gosto de falar com alguma base, ao contrário da Varela que adora discorrer sobre aquilo que ignora por completo e não quer deixar de ignorar, fui investigar. Pus-me em campo logo depois do almoço, por volta da 1 e meia. Dois minutos mais tarde já tinha chegado a esta página.
É a página do ministério da defesa da Ucrânia onde se apresentam os símbolos das forças armadas do país. Todos os países as têm. Está em ucraniano, mas qual é o problema disso numa era de tradutores automáticos?
(escusam de clicar onde diz "English", que não leva a uma página com a mesma informação)
Lá se fica a saber que a cruz da polémica é "uma cruz equilátera reta com lados divergentes de cor carmesim". E quem já alguma vez tenha visto uma cruz de ferro percebe imediatamente que esta não é uma cruz de ferro.
A cruz de ferro, muito crucialmente, não é uma cruz reta. É uma cruz curva. Pormenor irrelevante? No mundo das heráldicas, especialmente das militares, não há pormenores irrelevantes; uma coisa só é outra coisa se as características da coisa e da outra coisa forem as mesmas. E neste caso não são.
Assunto arrumado.
Não que a Varela aprenda alguma coisa, atenção. Há limites para a esperança.
Mais: a cruz de ferro nem sequer é um símbolo nazi, coisa que também se fica a saber rapidamente consultando a Wikipédia. Alguém devia ensinar a Varela, ao menos, a consultar a Wikipédia, já que coisas mais sofisticadas parece demasiado difícil. Foi adotada pela Prússia no início do século XIX, coisa que qualquer historiador tem obrigação de saber. Ou qualquer pessoa que tente informar-se o mínimo indispensável. Foi usada uma versão durante o período nazi, mas esta, muito espeficicamente, tem uma suástica no interior do desenho geral. De resto, o absurdo desta conversa idiota é tal que se a cruz de ferro propriamente dita fosse o suficiente para transformar um país num estado nazi, a própria Alemanha, onde a reprodução de símbolos nazis é proibida por lei, seria um estado nazi, uma vez que a cruz continua a ser o símbolo das forças armadas alemãs.
Na mesma página do Ministério da Defesa ucraniano, já agora, também se fica a saber que o símbolo foi adotado a 3 de setembro de 2009. E eu tive curiosidade e fui ver quem governava a Ucrânia em 2009. Estranhamente, pois pela maneira como certos tipos falam e escrevem parece que é tudo culpa do Zelenski, quem fez isto não foi o Zelenski. Este foi eleito em 2019, dez anos depois. Em 2009 governava a Iulia Timoshenko, líder do partido Batkivschina, um partido associado ao Partido Popular Europeu.
Sim, esse, o do PSD e do CDS (ainda existe, o CDS?). Extremamente nazi, como se pode constatar.
(OK, concordo, é a coisa mais próxima do nazismo em toda esta história... mas mesmo assim ainda anda bem longe. BEM longe)
Comments
Post a Comment